Editora Fap-Unifesp se prepara para novos desafios
Uma das metas é ampliar a distribuição de livros em livrarias físicas e virtuais. Aproximação de pesquisadores, discentes, corpo técnico é fundamental para integração da Editora à vida acadêmica e científica da Unifesp.
Chegou a hora de mudanças. Após oito anos de trabalhos, a Editora Fap-Unifesp está ganhando novo fôlego. Um projeto administrativo-editorial está sendo planejado para que a Unifesp possa ter uma Editora alinhada às principais demandas do mercado brasileiro.
Para apontar rumos para essa nova fase, a Editora conta com a consultoria de José Castilho Marques Neto. E quem é ele? “Um apaixonado pelos livros”, por sua autodefinição. Aliás, essa paixão é “pela leitura e escrita como instrumentos imprescindíveis à autonomia intelectual e emocional do ser humano”, como ele destaca nesta entrevista.
Paulistano de nascença, Castilho tem ampla experiência em trabalhos de editoras universitárias. Por 27 anos, foi um dos responsáveis pela consolidação da Editora da Universidade Estadual Paulista, Unesp. Também foi Diretor da Biblioteca Pública Municipal Mário de Andrade, Secretário Executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura dos Ministérios da Cultura e da Educação, e presidente, por vários mandatos, da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU), e da Associação de Editoras Universitárias da América Latina e Caribe (EULAC).
“Editar é ampliar o ensino para além das salas de aula. O livro impresso, e hoje virtual, é veículo do conhecimento, imaginação, cultura e arte”, diz Castilho. Acompanhe outros trechos de seu pensamento na entrevista a seguir.
Como a Editora Fap-Unifesp está estruturada hoje?
José Castilho – Atualmente, se estrutura num conjunto de quase 100 títulos publicados, apresentado em ótimo nível editorial e gráfico. A jovem Editora Fap-Unifesp fez o seu primeiro movimento para se estabelecer perante suas coirmãs acadêmicas; e perante o profissional mercado editorial brasileiro. Porém, é preciso ressaltar, embora seja essencial ter títulos bem editados, isso não é o suficiente para sustentar uma estrutura editorial a fim de representar uma grande universidade como a Unifesp. É preciso avançar nas medidas que dão corpo e sustentabilidade a uma editora.
O que vai mudar no trabalho da Editora a partir de sua consultoria?
José Castilho – Como consultor, sugiro o que entendo ser conveniente para o crescimento da Editora. Nesse sentido, minhas propostas abrangem um conjunto de decisões que apontam para uma editora universitária moderna, dinâmica, voltada profissionalmente para realizar seu trabalho editorial e de difusão da leitura de suas publicações. Tecnicamente, editar um livro ou uma revista é algo razoavelmente simples. Por outro lado, publicar tendo por trás um projeto editorial é mais complexo e exige, antes de tudo, um projeto editorial bem definido. Essa é uma das ações que pretendo desenvolver com todas as pessoas envolvidas na editora: estabelecer um projeto editorial próprio para ser oferecido à Unifesp para seu debate e decisão. Pretendo, ainda, contribuir para que se tenha uma editora que faça circular suas publicações. Mais de 70% dos livros lidos no Brasil circulam por intermédio de livrarias físicas e virtuais. A Editora Fap-Unifesp tem de penetrar nesse contexto para poder alcançar os leitores.
Qual a importância da Editora Fap-Unifesp para a Unifesp?
José Castilho – A importância da Editora para a Universidade se explicita na própria essência da atividade editorial, que é publicar contribuições relevantes da Universidade à sociedade. Publicar livros e textos significativos à difusão do ensino, pesquisa e extensão acadêmica, contribuindo para o desenvolvimento intelectual da sociedade. Editar é ampliar o ensino para além das salas de aula. É dar a conhecer as atividades acadêmicas para um amplo universo social. É igualmente, uma extensão de serviços permanente pela própria missão secular que o livro impresso, e hoje virtual, representa – ser veículo do conhecimento, imaginação, cultura e arte.
As publicações da Editora são relevantes à Comunidade da Unifesp?
José Castilho – Sim. As publicações da Editora valorizam o trabalho de toda a comunidade de docentes, pesquisadores, corpo técnico, administrativo e discente porque se constituirá, cada vez mais, numa carta de apresentação da Unifesp. Com uma editora respeitada, influente, a Unifesp cria uma instituição que representa o seu conjunto diverso universitário.
Como a comunidade cientifica da Unifesp pode se aproximar da Editora?
José Castilho – A edição universitária, embora presente mais fortemente nas principais universidades brasileiras desde o início dos anos de 1960, com um crescimento marcante nos anos de 1980, ainda carrega um distanciamento da comunidade científica. O Brasil não valoriza adequadamente publicações de suas editoras universitárias. São poucos os casos de real prestígio, planejamento e inversões substantivas na área de publicação das nossas universidades. A comunidade científica da Unifesp pode e deve quebrar esse distanciamento e se aproximar firmemente da Editora de sua universidade, contribuindo com sugestões de publicações, oferecendo suas pesquisas para publicação nas linhas editoriais definidas, emitindo pareceres específicos quando solicitados, adotando os livros publicados nas suas bibliografias de apoio nas disciplinas e orientações, tornando a Editora parte de sua vida acadêmica e científica.
Quais são assuntos de interesse para publicação pela Editora?
José Castilho – Uma editora universitária deve refletir, em primeiro lugar, as fortalezas que identificam uma Universidade. Em igual medida, contribuir para um catálogo universal em ciências humanas e artes. Entendo que se devam publicar textos relevantes para linhas de forte projeção científica da Universidade, combinada com uma ampla gama de títulos das áreas de humanidades e artes, base universal dos catálogos das grandes editoras acadêmicas internacionais.
Como o mercado editorial universitário no Brasil está hoje?
José Castilho – A edição universitária brasileira realizou um salto de qualidade em seu conjunto nos últimos 20 anos. Tanto do ponto de vista da qualidade editorial quanto de sua presença no mercado editorial. A Associação Brasileira das Editoras Universitárias (ABEU) contribuiu muito para este salto e hoje, com mais de 120 editoras universitárias, o Brasil tem um nível de publicação bastante interessante. Esse salto de qualidade englobou todos os projetos editoriais, dos mais abrangentes, com um catálogo universal, quanto os mais específicos e regionais, que realizam o imprescindível trabalho de fomentar escritores acadêmicos e culturas das diversas regiões brasileiras. Os livros das editoras universitárias brasileiras contribuem à bibliodiversidade de nossos catálogos.
Como os meios virtuais impactam o trabalho da Editora?
José Castilho – A resposta poderia ser simples e direta: impactam bem! A textualidade eletrônica adapta-se perfeitamente à edição universitária e científica. É instrumento fabuloso de ampliação do número de leitores. Mas é importante frisar. Como todas as coisas fundamentais da vida humana, nenhum suporte da leitura é definitivo, exclusivo, ou melhor do que o outro. Devemos valorizar os diversos suportes da leitura. Publicar no maior número de suportes possíveis, oferecendo ao leitor a oportunidade de escolher aquele que mais o satisfaz. O mais adequado as suas finalidades de leitura. A ótica do leitor deve organizar o restante do trabalho editorial. Ao partirmos da ideia de que editamos para os leitores, a lógica das formas, e dos suportes da escrita, ganham uma dinâmica positiva e mais sensível ao que interessa aos autores e às editoras: que os livros sejam lidos!
O senhor veio de um longo trabalho à frente da Editora da Unesp. O que o senhor traz de experiência desse tempo para o Editora Fap-Unifesp?
José Castilho – Trabalhei 32 anos na Universidade Estadual Paulista como docente, até me aposentar em março de 2016. De todos esses anos, 27 foram de contribuição à construção da Editora Unesp. Trago os aprendizados desses anos, a paciência de criar uma editora desde os primeiros passos. A consciência de professor e pesquisador que conhece a vida universitária, suas possibilidades e limites. Trago, também, uma rede de colegas e amigos que comigo construíram, Brasil afora, a edição universitária neste país; além de outra rede, igualmente importante e extensa, de contatos internacionais na edição universitária, principalmente ibero-americana. Não menos importante, trago a paixão pelo livro, pela leitura e pela escrita como instrumento imprescindível à autonomia intelectual e emocional do ser humano.